Reduflação: menos produto, mais impacto no bolso e na economia
- Fabiano Polese

- 14 de ago.
- 3 min de leitura
Por Fabiano Polese, diretor da Expo Supermercados
Nos últimos anos, a reduflação se tornou um fenômeno cada vez mais presente no dia a dia do consumidor brasileiro. O termo, que mistura “redução” e “inflação”, descreve a prática das indústrias de manter o preço do produto, mas diminuir seu tamanho, peso ou até mesmo a qualidade. É aquela barra de chocolate que antes tinha 200 gramas e agora tem 180 gramas, ou o pacote de biscoito que perdeu algumas unidades, sem que o preço tenha mudado.
O que antes estava restrito a ajustes discretos na indústria de alimentos e bens de consumo, agora se expande também para outros setores. Há quem diga que vivemos uma “reduflação dos serviços”, onde a entrega de conhecimento, qualidade e atendimento vem diminuindo em áreas como a educação, consultorias e até serviços técnicos. Ou seja, o consumidor paga o mesmo ou mais, mas recebe menos em troca.

Essa prática ganhou força como resposta a um cenário de inflação persistente. Para muitas empresas, reduzir a quantidade é menos arriscado do que aumentar o preço de forma explícita. No entanto, o efeito para o consumidor é praticamente o mesmo: perda de poder de compra. Com a inflação pressionando o custo de vida, cada centavo gasto precisa render mais, mas a reduflação faz exatamente o contrário — o produto ou serviço acaba mais caro por unidade de medida, e o orçamento mensal fica cada vez mais apertado.
O consumidor, mais informado e atento, já percebe essa diferença. Muitos comparam preços por quilo ou litro e, nas redes sociais, não faltam denúncias de embalagens “misteriosamente encolhidas”. A confiança, que é um dos ativos mais valiosos para qualquer marca, começa a ser colocada à prova. Marcas que abusam da prática correm o risco de perder clientes para concorrentes que mantêm transparência e qualidade.
Outro fator que influencia o mercado é o cenário internacional. A recente tarifação dos Estados Unidos sobre diversos produtos importados pode mudar o fluxo de comércio e impactar diretamente o Brasil. Exportadores que antes tinham nos EUA um destino lucrativo para suas mercadorias podem encontrar barreiras comerciais e decidir direcionar parte dessa produção para o mercado interno. Isso significa mais oferta de produtos dentro do país e, consequentemente, aumento da concorrência entre as empresas nacionais.
Se, por um lado, essa concorrência extra pode gerar mais promoções e opções para o consumidor no curto prazo, por outro, pode pressionar margens de lucro e levar empresas a buscar alternativas para manter resultados — e, novamente, a reduflação pode aparecer como uma “solução” rápida, embora arriscada para a reputação das marcas.
O desafio para as indústrias é equilibrar custos e qualidade. Investir em eficiência produtiva, tecnologia e logística pode ser a chave para evitar cortes que prejudiquem a percepção de valor. Já para o consumidor, a saída está em comparar preços de forma criteriosa, observando o valor por unidade de medida e não apenas o preço estampado na prateleira.
No fim das contas, a reduflação é mais do que uma estratégia de negócio: é um reflexo das pressões econômicas globais, da inflação persistente e das mudanças no comércio internacional. Para empresas, ela pode ser um recurso de curto prazo; para consumidores, um alerta para ficarem cada vez mais atentos. Em um mercado cada vez mais competitivo e transparente, manter a confiança pode valer mais do que economizar alguns gramas na embalagem.













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